Rostos com História - apresentação de Fernando Rodrigues
Inaugurou, no passado dia 10 de março, a exposição “Rostos com História”, de Pedro Canedo e estará patente no Ecomuseu de Barroso – espaço padre Fontes até ao dia 18 de maio. A apresentação coube a Fernando Rodrigues, que se referiu ao autor e à obra.
“Enganou-se e convidou-me a mim… pensou que eu percebia, esqueceu-se, não quis aborrecer ninguém, foi um recurso. Seja por que for, tinha de aceitar: pela consideração ao Pedro, pela consideração pela exposição e pelo que este trabalho representa – A ALMA DO NOSSO POVO.
Consideração pelo Pedro porque ele está sempre disponível. Chateia os amigos e a família (a Dr.ª Alexandra e o Dr. Mário são muitas vezes os “cristos”), por nossa causa, por causa das pessoas de Montalegre… por isso qualquer um de nós teria de dizer sim.
E respondi sim com satisfação e pela paixão do Pedro com Montalegre. Montalegre primeiro que partidos, futebol ou que qualquer capital europeia.
Sempre assim foi. Peito feito por Barroso: A Feira do Fumeiro, a Sexta 13, o Rallycross, o prestígio que Montalegre continua a conquistar lá fora, tudo isto só aumenta a vaidade porque o Pedro foi sempre um orgulhoso e dos melhores Barrosões e defensores da nossa terra lá fora.”
… Só damos valor às coisas quando gente mais capaz nos escancara o que está à nossa volta. Dussaud na foto, Bento da Cruz na escrita, mostram, com arte, na devida proporção, claro, a beleza que nós desconhecíamos. É bom ver e ler essa gente porque passamos a ver melhor e a gostar mais do que somos.
O Pedro tem essa sensibilidade, observa e vê o que muitos não veem. E quer transmitir mais do que o que está na frase, do que está no texto, do que está na foto. O que está por fora, mas o que é mais profundo, e que está por dentro.
Mas porque é que o Pedro tem esta sensibilidade? Porque tira fotos na sua terra, no nosso mundo?
Tem o mar, o céu, a cidade, a civilização, os crimes, a barafunda, e também monumentos, cultura, elites. Está lá e escolhe a natureza e o rural, o que faz, ainda por cima, com muito gosto. Porquê?
Está aqui uma herança.
Nós valemos pelo que aprendemos, pelo que damos, pelo que somos. Mas há genes dentro de nós, que herdamos. Há quem não tenha, e não pode dar. O Pedro tem. Isso é uma grande dádiva.
E há aqui nesta faceta do Pedro a revelação de uma pequena herança de sensibilidade e expressão cultural.
Há aqui herança da craveira cultural e da sabedoria popular.
Do sábio e elegante na palavra e da pessoa de bom gosto.
Do rigor da matemática, das letras e da palavra assertiva.
Da liberdade e do humanismo.
Do conhecedor e crítico dos problemas do mundo, mas muito estudioso e conhecedor da sua gente, da sua cultura, que enaltecia e onde se inspirava.
Estou a ver aqui aquela foto genuína, de simplicidade e cumplicidade, a merendar com o António de Padornelos… era um homem impar… sobressaia no meio social, no meio profissional ou académico, nas elites, mas era no rural e na sua gente onde se sentia bem.
Há aqui uma pequena herança, em meu entender, do conversador, do analista culto, do progressista, do homem evoluído, moderno, urbano, mas reconhecido e apaixonado pelas raízes.
Há aqui no Pedro uma herança de parte do arcaboiço cultural de excelência que existia no Dr. Américo Canedo.
Por isso aqui está também uma homenagem ao que o Dr. Américo tinha dentro de si, que o transformou NUM DO MELHORES DE SEMPRE DE MONTALEGRE.
O Pedro e o seu gene que está aqui nesta exposição.
E cada um tem diferentes leituras, mais superficiais e mais profundas, mais técnicas e mais generalistas.
O que eu vejo é que o Pedro fala com as pessoas… fala olhos nos olhos.
Vejo o relato sociocultural que identifica uma região pobre. Não há fotos desta natureza noutras regiões do país.
Vejo o espelho do tecido social do Barroso: retrato do trabalho, do sofrimento, da vida dura, da austeridade, da determinação, da força individual e coletiva, da solidariedade.
Vejo a dignidade de um povo, a simplicidade, o apego aos animais e à terra, mas também a condição social, o baixo nível de escolarização, a experiência e os saberes ganhos na vida e no trabalho.
Vejo a solidão, a memória e noto, já aí, o nível etário da região.
Vejo a homenagem a tudo isto: AO HOMEM E À MULHER BARROSÃ!
Nesta exposição mandam as mulheres, como na sociedade Barrosã.
E não há nesta exposição solenidades. Há apenas uma festividade, mas o rosto mostra-se mais concentrado noutros pensamentos.
Não há sorrisos nem cores, nem “se fazem à foto”. Há rostos reais, naturais, de resignação com a vida.
E por trás dos rostos revela-se essa vida agrícola e a ruralidade, com animais e utensílios, com a construção, a natureza, o traje, os usos e costumes. A marca de uma época, duradoura, é certo, se tivermos em conta que algumas fotos têm 40 anos.
É o dia-a-dia. É o frente a frente. É o cara a cara, é falar olhos nos olhos.
Vemos aqui ROSTOS COM HITÓRIA, com a nossa história, da qual todos nos orgulhamos.
Vejo trabalho de quem vê isso tudo e de quem tem alguma coisa a dizer: - SOU DESTES! É A MINHA TERRA É A MINHA GENTE!”
Fotografias cedidas por Maria José Afonso.