Borralha: objeto do mês de abril
O Ecomuseu de Barroso - Centro Interpretativo das Minas da Borralha expõe todos os meses "O Objeto do Mês".
No mês de abril apresenta "Na senda da Liberdade". Visite o nosso espaço e venha conhecer esta história.
Na senda da Liberdade
Abril foi, é e será o mês da Liberdade. Foi neste mês que, pela coragem e bravura dos militares e do povo, se conseguiu pôr término a uma ditadura que vigorou durante 41 penosos anos. Graças à Revolução dos Cravos, “uma revolução com cravos em vez de balas” (Martis & Osório, 2015), Portugal pôde voltar a respirar dias de liberdade. Assim ficou para história, nacional e internacional, esta capacidade de em Portugal se fazer uma revolução sem derramamento de sangue. No entanto, este statement não é de todo verdade. Que o digam os familiares de Fernando dos Reis, de Fernando Giesteira, de João Arruda e de José Barnetto. Como afirmaram Eduardo Martins e Luís Osório, em 2015, estes “São os heróis esquecidos do 25 de Abril” (Martis & Osório, 2015). Estes 4 jovens, entusiasmados por, finalmente, conhecerem o sabor da Liberdade, saíram das suas habitações e foram, como muitos outros, para a Rua António Maria Cardoso – onde se encontrava a sede da PIDE. Uns foram com vontade de fazer justiça pelas próprias mãos, outros seguiram com vontade de ver a justiça a ser feita contra aqueles que massacravam, que espezinhavam, e que cometiam as maiores atrocidades a todos quantos não seguiam a ideologia e as ordens do regime ditatorial até então vigente. Apesar dos momentos de tensão, tudo seguia da forma mais pacífica possível. Não havia registo de disparos, nem de gente ferida ou morta. Marcelo Caetano, homem que ficara a substituir António de Oliveira Salazar, rendera-se e, por fim, a Liberdade pôde triunfar. Contudo, num último suspiro deste regime opressivo, “os agentes da PIDE/DGS, sentindo-se cercados pelo povo, abriram fogo. Dispararam indiscriminadamente.” (Martis & Osório, 2015). Vários populares ficaram feridos e estes 4, infelizmente, não puderam saborear mais de 24 horas de Liberdade.
Esta história merce o nosso destaque neste mês de abril. Destacamo-la não só porque é o mês da Liberdade, mas, também, porque, lamentavelmente, um dos 4 jovens mortos neste 25 de abril era um filho da terra. Fernando Carvalho Giesteira, o mais novo dos 4, nasceu às 17 horas, do dia 03 de agosto de 1955, nesta aldeia das Minas da Borralha. Filho de Fernanda Carvalho Giesteira e de Armando Gomes Giesteira, registo nº 660 no Posto do Registo Civil de Salto. O jovem transmontano, à época com 18 anos, foi para Lisboa e estava empregado num escritório. Pouco mais se sabe deste rapaz, que deixou estas terras cá do Norte e rumou a Lisboa, com o intento de alcançar uma vida melhor. Quis o destino que, naquele prazenteiro e fatídico 25 de abril de 1974, Fernando Giesteira estivesse no caminho das únicas balas disparadas e se tornasse, assim, num dos “mártires involuntários do 25 de Abril” (Martis & Osório, 2015). Os pides responsáveis por estes homicídios foram presos no dia 26 de abril, a Revolução dos Cravos surtiu o efeito pretendido e Liberdade consumou-se.
“A Revolução estava numa marcha imparável. As horas mais felizes e agitadas para milhares de portugueses, dias de medo e inquietação para outros tantos. E dias que não foram gozados por por quatro jovens que morreram no dia mais feliz das suas vidas, o dia em que foram livres menos de 24 horas.” (Martis & Osório, 2015).
Esta é a história de um conterrâneo e merece, neste mês de abril, o nosso destaque. Que nunca esqueçamos que a Liberdade não é um dado adquirido e que, todos nós, a devemos aos heróis, sem capa, de Abril.